14 de setembro de 2013

WALL•E (2008)

Uma das grandes obras de arte de nosso século é a animação da Pixar WALL·E. Baseado na ideia original de Pete Docter e Andrew Stanton do início da década de 90, de como seria a vida de um robô que estivesse sozinho em uma Terra desolada e destruída. Com o passar dos anos a história ganhou corpo e apoio dentro da Pixar até se transformar em um marco visual do cinema. Descrito pelo próprio Stanton como uma gramática visual, WALL·E nos remete aos primórdios da indústria cinematográfica dos filmes mudos de Georges Méliès, criador dos efeitos especiais, que na época não passavam de efeitos visuais e jogos de câmera. O vencedor do Globo de Ouro e Oscar de melhor animação aparece no topo da lista da revista Time como melhor filme da década passada.

Auto e HAL 9000
WALL·E possui inúmeras citações de clássicos do cinema, uma delas é 2001: Uma Odisséia no Espaço, marco da ficção científica dirigido e escrito por Stanley Kubrick em parceria com o escritor Arthur C. Clarke. Ambas possuem o mínimo de diálogos e uso de som e imagens para comunicação com o público. Exploram a inteligência artificial e a convivência de robôs com humanos que resulta em motim contra os homens, tanto HAL 9000, computador da nave Discovery, da obra de Kubrick, quanto Auto, piloto automático da Axiom, que, aliás, é uma homenagem ao robô da Discovery que possui um olho vermelho no centro em clara referência à obra dos anos 60, ambos surtam e buscam o controle de suas naves.

Os efeitos sonoros são um show à parte e foram indicados ao Oscar. A canção Also Sprach Zarathustra (Assim Falou Zarathustra) composta por Richard Strauss e presente também em 2001, inspira a evolução filosófica do homem segundo a obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, exposta na cena de briga entre Auto e o comandante da Axiom. Outra canção marcante que embala a parte romântica da animação é Put on Your Sunday Clothes, que está presente também no musical Hello Dolly, possui um simbolismo expresso no acariciar das mãos de um casal ingênuo e marca o amor robótico de WALL·E por EVA. Essa busca incessante é tão singela e ao mesmo tempo tão complexa, quantos sinais como esse deixamos passar no decorrer de um dia? Pequenos gestos e pequenos atos que são capazes de transformar a vida em um parque de diversões repleto de algodão doce. Outra grande referência é Sigourney Weaver que dá voz ao computador da Axiom, Stanton brincou com ela dizendo: você percebe que agora é a “Mãe”? Mãe é o computador da nave Nostromo de outro lendário filme de ficção Alien – O Oitavo Passageiro.


O balé no espaço de WALL·E e EVA ao som de Danúbio Azul, composta por Johann Strauss II, é emocionante e realçam as curvas de EVA que teve seu desenho inspecionado por ninguém menos que o protegido de Steve Jobs, Jonathan Ive, desenhista do iPod. A fotografia tão bem trabalhada quanto a sonorização, criou uma Terra desolada e um espaço tão vazio e ao mesmo tempo tão brilhante que torna difícil a dissociação entre animação e realidade.


A principal mensagem que o filme nos passa também é o que o torna tão especial. Somos reféns da obviedade e mergulhamos em nossa rotina. A imagem de um robô solitário que possui uma diretriz para realizar as mesmas atividades é o retrato mais fiel do homem atual. E apenas o amor simples e puro é capaz de reacender a centelha da vida. A acomodação e praticidades tecnológicas da Axiom são um espelho de nosso futuro. Neste ponto o toque de mãos entre os dois robôs é o que mais se aproxima do calor humano já em extinção nos dias de hoje, dias estes em que o texto que você lê nesse exato momento pode ser visualizado em qualquer dispositivo móvel e em praticamente qualquer lugar do mundo. Isso é bom, mas existem outras coisas, devemos cuidar para que não nos tornemos as “máquinas”. A cena em que WALL·E encontra uma caixinha com um anel de diamantes e sua escolha pela caixinha mostra os valores que adotamos, falta-nos a curiosidade das crianças, o desejo da descoberta de um novo mundo a cada dia e o amor pelas pequenas coisas que é a diferença entre a vida real e a artificial.

Confira o Trailer:

Que o cinema esteja com você!

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