8 de janeiro de 2013

360 (2012)


360 é um filme cíclico, como o próprio nome sugere. Assemelha-se a Babel de 2006, neste o fato principal era fruto de acontecimentos anteriores, em 360 os fatos não são interligados diretamente, mas indiretamente as seis histórias se cruzam em algum momento da trama que é falada em sete idiomas diferentes e teve como locação cinco países. Abordando o comportamento humano focado nos relacionamentos, 360 enquadra em cada um dos protagonistas algum momento de decisão e reflexão, arrebatando o público com a proximidade da vida real.

Terceiro filme internacional de Fernando Meirelles, após O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio sobre a Cegueira (2008), ele disse que 360 foi seu filme mais simples, os papéis são tranquilos e não oferecem quase nenhuma ação, é completamente voltado para o lado comportamental. 360 foi muito criticado e Meirelles chegou a afirmar que o filme era 80% do roteirista Peter Morgan e ele próprio não interferiu tanto no projeto.

Após assistir 360 podemos concluir que, não de uma forma geral, mas de uma forma genérica, com o perdão do trocadilho, as relações civis oficializadas, seja em órgãos competentes ou mesmo pela convivência sob o mesmo teto, são as mais propícias às traições. Seria pelo conforto da certeza de confiança do parceiro ou pelo simples sentimento de desconforto perante a situação. Casais com relacionamentos casuais são mais comprometidos como casais do que os que se casam. Não que estes sejam descomprometidos, mas se comprometem com outras causas que não o dualismo matrimonial. 360 mostra a víscera da traição em situações banais e complexas. Vai do céu ao inferno e completa seu giro dando início, meio e fim a cada história.

Maria Flor
As atuações não são primordiais e sim, como já citei: comportamentais. Destaco três personagens que interagem de forma direta no filme. A bela brasileira Maria Flor, que interpreta Laura, casada com Rui (Juliano Cazarré) e residente na Inglaterra que após descobrir a traição de seu marido resolve voltar ao Brasil, em uma mensagem gravada expõe sua descoberta e seus planos. Foi um momento de pura espontaneidade e com diálogos em português, talvez por isso sua atuação tenha sido fria e morta, mas se redime nas próximas cenas dialogadas em inglês destacando-se pela graciosidade e leveza.

Anthony Hopkins e Maria Flor
Ela contracena com Anthony Hopkins no início da viagem ao Brasil. A espontaneidade expressada por ele é assustadora. Maria Flor disse que ao entrar no set de filmagem Hopkins estava animado com o papel por se tratar de seu personagem mais real, disse ainda que alguns pontos da trama eram semelhantes a acontecimentos de sua vida. A veracidade com que atuou e os olhares vagos entre uma fala e outra coroam uma carreira brilhante e respeitável. O que me deixa mais ansioso em relação a Hitchcock que estreia este ano tendo Anthony como o gênio inglês do suspense.

Ben Foster
Após passar por essa relação quase que de pai para filha, Maria Flor se rebela contra seus próprios conceitos morais e seduz um homem recém saído da cadeia, Tyler, interpretado por Ben Foster, que luta contra seu desejo desvairado enraivecido com seu instinto.

Jude Law e Rachel Weisz formam o casal que se torna o retrato da trama, passando por momentos de crises de identidade, que após 360º e altos e baixos que a montanha russa da vida passa, terminam onde começaram: em um relacionamento fundado no amor e companheirismo. Todas as histórias são expostas e encerradas, sem deixar pontas soltas.

Hopkins Weisz Law
A cena memorável dá-se no momento em que Laura entra no avião de volta ao Brasil, no corredor podemos ver um senhor distinto sentado à sua poltrona com um garotinho, como se Hannibal voltasse ao avião para se redimir da cena ultrajante, como foi descrita pelo próprio Hopkins. Que algumas cenas a frente recitaria um texto apoético que em sua voz intimista e olhar introspectivo romantizaram um sentimento platônico ruflando uma filosofia poética. Afinal, só temos uma vida, quantas chances teremos?

Confira o trailer:

“Um sábio disse uma vez que se há uma bifurcação na estrada, siga-a. Mas esqueceu de dizer qual caminho seguir e quem sabe um dia as decisões que tomamos nos levem de novo ao mesmo lugar...”


E que o cinema esteja com vocês!

4 comentários:

  1. estranho o Meirelles dizer que o filme é 80% do roteirista... mesmo com as criticas negativas, tenho interesse...

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  2. Um dos filmes de 2012 que acabei não conferindo. Lembro que dividiu a crítica ao redor do mundo - os brasileiros mesmo colocaram o filme entre a cruz e a espada. Gosto muito do Meirelles, espero ver uma direção de nível aqui (mesmo que ele tenha dito ser 80% da qualidade fruto do trabalho de Peter Morgan, um diretor que me ganhou 100% em A Rainha).
    Está em home video já, vou conferir em breve (o elenco me atrai muito, especialmente a musa Rachel Weisz).
    Abraços!

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  3. Peter Morgan é roteirista, não diretor - por sinal, quem está igualmente ótimo é o DIRETOR de Arainha. Stephen Frears.

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  4. Pois é, Bruno e Weiner, o Meirelles parece conformado com uma espécie de codireção nesse projeto.

    Mas é um filme que vale a pena, não é mais do mesmo!

    Abraço

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