6 de novembro de 2012

Zelig (1983)


Leonard Zelig viveu seu apogeu nas décadas de 20 e 30. Em 1983 foi lançado o documentário Zelig. Conhecido como o camaleão humano, ele possuía uma estranha doença (ou era a doença que o possuía) que o tornava capaz de se transformar em qualquer pessoa que estivesse próxima a ele. Zelig tornou-se herói nacional nesse período, mas se você faltou às aulas de história ou se os documentários que assiste são sobre pinguins-imperadores que convivem com abelhas-rainha, conheça agora Leonard Zelig!

O pseudodocumentário Zelig, dirigido por Woody Allen, é um exemplo de massificação e uma ácida crítica ao modo como são construídos os ídolos e heróis e principalmente pelas idiossincrasias sociais. Ele é o reflexo de nossas máscaras.

Rango
Tudo começou quando Zelig, interpretado pelo próprio Allen, foi questionado na escola, ainda em sua infância, se havia lido Moby Dick, obra, à qual, todos de sua sala haviam lido, ele não. E mentiu ter lido para não se sentir deslocado. Com o passar do tempo ele mimetizou as pessoas e suas atitudes. Sentia necessidade de aprovação perante quem o circundava. Com isso negava a si mesmo para viver a verdade dos outros, o que o tornou adorado por todos. A animação vencedora do Oscar de 2012, possui um roteiro muito semelhante, Rango, de Gore Verbinski, é um camaleão que sonha em ser ator e interpreta os papéis que lhe são convenientes ao momento.

Eudora Fletcher e Zelig
Zelig desperta o interesse da Dr. Eudora Fletcher, interpretada por Mia Farrow, que defende sua internação enquanto a opinião pública o trata como atração circense. Produzem bonecos, camisetas e inúmeras canções em sua homenagem. É impossível não assimilar a realidade do filme com nossos realities shows, no qual personalidades sem o mínimo de brilho são alçadas ao sucesso pela mídia e, assim como ocorre com Leonard, da mesma forma banal em que são elevados ao pedestal da fama, são derrubados. Zelig ganha status de herói de uma forma bizarra, seu nome e imagem são estampados por toda parte. No Brasil, recentemente, tivemos um exemplo, o Mendigo Gato que há pouco vivia nas ruas, tornou-se celebridade no meio midiático.

Em uma das sessões de hipnose com Eudora Fletcher, Zelig diz: “tenho 12 anos. Entro em uma sinagoga. Pergunto ao rabino o sentido da vida. Ele me diz o sentido da vida. Mas ele me diz em hebraico. Eu não falo hebraico. Ele quer cobrar 600 dólares por aulas de hebraico.” É uma forma genial de dizer o sentido da vida. Ou de não dizê-lo.

Zelig e Hitler
A produção de Zelig recebeu inúmeros elogios. Allen e o diretor de fotografia Gordon Willis, inseriram Leonard em imagens reais de tablóides da época utilizando a técnica do Chroma key, com isso Allen foi retratado ao lado de celebridades da época, como o presidente dos Estados Unidos, Al Capone, Charlie Chaplin, Adolf Hitler e até o Papa Pio XI. O filme é rodado todo em preto e branco e para que as imagens geradas parecessem reais localizaram câmeras e lentes utilizadas originalmente durante o período retratado. Essa mistura de imagens foi alcançada quase uma década antes da tecnologia digital, utilizada em filmes como Forrest Gump, por exemplo. A fotografia e o figurino foram indicados ao Oscar de 1983.

Para aumentar a veracidade do documentário, pessoas reais comentam o fenômeno Zelig, como o escritor e prêmio Nobel Saul Bellow, o psicólogo Bruno Bettelheim e a ensaísta Susan Sontag. O filme passou muitos anos esquecido por não seguir a forma tradicional da ficção clássica, jamais foi lançado em VHS, mas foi incluído pela Fox no Box lançado com toda a obra de Woody Allen no Brasil.

Zelig conseguiu transformar-se em praticamente tudo, obteve fama e tornou-se herói, mas  Moby Dick ele não conseguiu ler.


Que o cinema esteja com vocês!

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